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09-07-2004
Diário de Notícias
Sociedade
por Sofia Jesus
De mãos dadas ou abraçados, vários casais de namorados passearam ontem, ao fim da tarde, pelos jardins do Parque Eduardo VII, em Lisboa. Um cenário comum ao de tantos outros dias, não fosse este um «namoro de protesto» contra a discriminação de que são alvo os casais homossexuais nos parques públicos da cidade. Um beijo simbólico, pela liberdade de expressão.
Segundo Sérgio Vitorino, da associação Panteras Rosa, são dezenas as denúncias de namorados homossexuais insultados pela PSP ou pela polícia municipal.
«Ilegalidade» ou «atentado à moral pública» são apenas algumas das expressões utilizadas normalmente pelos agentes da autoridade para impedir casais de lésbicas ou gays de namorarem em espaços públicos. Ou seja, de exercerem um direito que é tanto seu como de qualquer casal heterossexual.
Além do Parque Eduardo VII, onde há pouco mais de uma semana um menor diz ter sido ameaçado fisicamente por um polícia - por se ter recusado a afastar do namorado -, as queixas da comunidade lgbt (lésbica, gay, bissexual e transexual) estendem-se ainda aos seguranças privados dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian.
«O que gostaríamos era de confrontar as chefias destas instituições para saber se se trata de homofobia individual de determinados agentes ou se estes têm indicações superiores para agir assim», afirmou ao DN Sérgio Vitorino. E acrescentou: «Deviam criar directivas formais proibindo este tipo de atitudes.»
Acções que não são estranhas, por exemplo, a Vanda. «Acontece muitas vezes, quando estamos a namorar... Insultos, olhares indiscretos, sofremos de tudo», conta esta jovem. «Mas há homofobia mesmo dentro da comunidade lgbt. Por isso, este protesto é importante: para que todos saibam quais os seus direitos e os reivindiquem», acrescenta, antes de prosseguir o passeio, de mão dada com a namorada, Ângela.
Porque «a discriminação é um problema de todos nós» e «a liberdade de expressão um direito de todos os cidadãos», vários casais heterossexuais integraram o protesto, por «solidariedade». Algumas pessoas, como Raquel e Rebbeca, foram mais longe e, apesar de não serem lésbicas, trocaram beijos entre si, em frente aos agentes policiais.
«Sou heterossexual, mas isto é uma agressão aos cidadãos portugueses e estou solidária», explicou Raquel. É que, lembrou, «o desenvolvimento de uma democracia vê-se também pelo modo como trata as suas minorias»...
Para Sérgio Vitorino, pior do que os insultos é a «discriminação invisível», praticada ao abrigo de «regras implícitas» no local de trabalho ou nos próprios serviços do Estado, como é o caso da restrição de visitas nos hospitais.
No interior do carro azul e vermelho, agentes da PSP desviavam o olhar dos cerca de dez casais de namorados que se beijavam. «Não prestamos declarações.» Mas também não impediram o protesto.
http://dn.sapo.pt/noticia/noticia.asp?CodNoticia=162171&codEdicao=1160&CodAreaNoticia=2
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