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Gays, 'Visíveis de Facto'

02-07-2000
por Elisabete Vilar

500 pessoas e poucas máscaras na primeira marcha homossexual portuguesa

No mesmo dia em que Portugal assistia à primeira marcha do movimento homossexual, que fez desfilar 500 pessoas pelas ruas de Lisboa, reivindicando "direitos iguais", o Estado norte-americano de Vermont realizava os primeiros casamentos "gay" da história do país.

Uns abanavam a cabeça em sinal de desaprovação, ou de pena. Outros sorriam, acenavam e batiam palmas. O certo é que ninguém resistiu a assomar à janela ou à porta dos cafés, lojas e casas que ficavam no caminho ontem percorrido pelos cerca de 500 participantes da Primeira Marcha do Orgulho Gay, Lésbico, Bi e Transexual realizada no país e que levou os manifestantes do Príncipe Real à Praça do Município, em Lisboa.

E não era para menos: a marcha caracterizou-se pela boa disposição e por um colorido irrestistível para a curiosidade de quem passava.

Uma gigantesca bandeira com as cores do arco-íris - símbolo do movimento homossexual -, a toda a largura da estrada e com vários metros de comprimento impunha-se no meio dos manifestantes, que empunhavam cartazes reivindicativos: "Sou homossexual e voto", "Casais homo, casais hetero: a diferença está na lei", "O amor nunca é errado". No jardim do Príncipe Real, duas idosas que viram o sossego do seu passeio de sábado à tarde quebrado pelos gritos entusiasmados dos participantes da manifestação defendiam que "cada um vive a vida à sua maneira". "Eles não prejudicam ninguém com isso", sustentou uma delas, ao que a outra acrescentou: "Aliás, eles não têm culpa daquilo".

José Manuel Fernandes, Sérgio Vitorino e António Serzedelo, líderes de três dos principais movimentos homossexuais portugueses, mostraram-se satisfeitos com o nível de participação. Todos admitiam que aparecessem menos pessoas, mesmo tendo em conta que nem todos os participantes eram "gays", e até esperavam que houvesse mais gente a usar máscaras - um recurso utilizado por alguns manifestantes que pretendiam "proteger os familiares e amigos da discriminação" e que justificavam a atitude com cartazes: "Não tenho medo. Tenho bons motivos [para me esconder]".

Uniões de facto na ribalta

Outros, a maioria, entregaram-se sem reservas ao "outing" e pareciam electrizados de entusiasmo, sorrindo e mostrando às televisões as suas frases: "Sou gay, normal e feliz", "Agora, todos sabem que eu sou", "Sim, somos muit@s", "Somos visíveis de facto". "Nunca vi tantos 'gays' portugueses a darem a cara", assegurava Sérgio Vitorino, do Grupo de Trabalho Homossexual do PSR.

Francisco Louçã, deputado daquele partido, também se associou à marcha. Para ele, estes são os pioneiros de uma iniciativa que irá crescer com toda a certeza. "No Canadá, onde milhões de pessoas participam na Marcha 'Gay', também se começou com poucas centenas". Por isso, acredita, "daqui a uns anos, a mulher do Presidente da República ou do presidente da Câmara vão querer estar na primeira fila". Louçã afirmou ainda que este tipo de manifestação "é um caminho que se faz em direcção a uma cultura de respeito e de tolerância".

O antropólogo Miguel Vale de Almeida, que também marchou até à Praça do Município - local onde se realizou, à noite, o habitual Arraial Pride -, congratulou-se com a iniciativa, que constitui "uma forma mais política de o movimento se afirmar", que "complementa a festa", por ser "mais reivindicativa". Igualmente contente com o número de participantes, Vale de Almeida reconheceu que este pendor mais sério da marcha, em relação ao arraial, poderá suscitar mais reacções. É que enquanto a festa é muito associada "à mascarada e à palhaçada", uma marcha tem outro impacto e pode trazer à tona muita "hipocrisia social".

José Manuel Fernandes, presidente da ILGA, levantou novamente a questão do reconhecimento legal das uniões de facto homossexuais, cujo agendamento na Assembleia da República "já foi adiado três ou quatro vezes". E lembrou também que o censo a realizar em 2001 não irá contabilizar os casais "gay" porque o Instituto Nacional de Estatística considera o seu número irrelevante.

"Temos os mesmos deveres, devíamos ter os mesmos direitos", concluiu.

E Lisboa ouviu-os gritar isso mesmo pelas ruas: "Homossexuais, direitos iguais, gueto nunca mais". E também: "Eu amo quem quiser, seja homem ou mulher".


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