Não Diga que Não Vê

Sair do armário? assumir a tua homossexualidade ou bissexualidade



O mundo à tua volta, a TV, os filmes, as revistas e jornais, bombardeiam-te permanentemente com imagens e estereótipos do casal perfeito, o homem e a mulher. A música que ouves é quase toda referente à paixão heterossexual. Se és homem os teus amigos só falam de mulheres, se és mulher as tuas amigas só falam de homens.Tudo isto torna difícil, e até doloroso, identificares-te na sociedade em que vives. Mesmo sabendo que ser homossexual ou bissexual é normal e tão saudável como ser heterossexual. Mesmo sabendo que leva tempo descobrir quem és e que tens o direito de te conhecer. Mesmo sabendo que não és únic@ nem estás sozinh@, porque há centenas de milhares de pessoas que já passaram pelo mesmo.Chega uma altura em que todas as pessoas podem sentir-se apaixonadas ou atraídas por alguém do mesmo sexo. Não significa que se seja homo ou bissexual. Muitos homossexuais têm experiências sexuais com pessoas do sexo oposto e muitos heterossexuais têm essas experiências com pessoas do mesmo sexo. Uma pessoa não activa sexualmente pode saber qual é a sua orientação sexual. A sexualidade humana desenvolve-se e define-se ao longo de muitos anos. Não te preocupes se não tens a certeza. São os teus sentimentos, emoções e atracções físicas que vão ajudar-te a ir definindo a tua orientação sexual.Quando decides dizer às pessoas que és gay, lésbica ou bissexual diz-se que estás a assumir-te ou a assumir a tua orientação sexual (coming-out). Assumirmo-nos como gays, lésbicas ou bissexuais é algo muito importante. Se falares com algumas pessoas que tenham passado por este processo, verás que é uma das experiências mais marcantes das suas vidas e que é algo contínuo, que nunca está acabado.

Porque Existem Diferentes Orientações Sexuais?
O investigador sobre sexualidade mundialmente conhecido, Dr. Alfred Kinsey, concluiu a partir das suas pesquisas que quase ninguém é exclusivamente hetero ou homossexual e que a maior parte das pessoas sentem-se atraídas, pelo menos uma vez durante as suas vidas, por pessoas do mesmo sexo.
Existem pessoas de orientação homossexual e bissexual em todo o lado. Simplesmente, a maior parte das vezes, não consegues distinguir quem é ou não é. Mas ninguém sabe exactamente o que determina ou desencadeia os diferentes tipos de orientação na nossa expressão sexual. Muitos estudiosos pensam que é um produto complexo da genética, da biologia e de condicionantes psico-sociais.
De acordo com o psiquiatra Dr. Richard Pillard, a homo e bissexualidade existem em praticamente todas as espécies de animais. A homossexualidade faz tanto parte da natureza como a heterossexualidade. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (AAP), não podemos escolher a nossa orientação sexual. Mas podemos optar por assumi-la perante nós próprios e a quem o dizer...

A Quem Dizer?
És tu que decides a quem dizer. Não tens de dizer a ninguém, se não o desejares. Mas encobrir quem és pode dificultar as tuas relações pessoais. Quando decides dizer a pessoas que és gay, lésbica ou bissexual diz-se que estás a assumir-te ou a assumir a tua orientação sexual (coming-out).
Tenta planear as circunstâncias em que tencionas assumir-te. A melhor coisa a fazer é falares com alguém em quem possas confiar: um amigo ou amiga, a tua mãe ou o teu pai, uma irmã ou irmão.

1. Amigos
Preconceito e discriminação existem em todo o lado, para com todas as diferenças. As pessoas muitas vezes temem aquilo que não compreendem e podem acabar por odiar aquilo que temem. Esta é a base do preconceito a que se chama homofobia, quando está associado à homossexualidade.
Em geral @s jovens e @s amig@s reagem melhor às diferentes orientações sexuais do que as pessoas mais velhas, embora isto não seja uma regra. Conhecendo os teus amigos ou amigas sabes que os mais chegados te poderão apoiar. Alguns até poderão ter muito orgulho em te ter como amig@ e na tua coragem em assumires-te. Outros, se têm preconceitos acerca de pessoas homo ou bissexuais, poderão reagir mal e podes perder a sua amizade. Tens de estar preparad@ para tudo.

2. Família
Cada família é única. Só tu podes saber se a tua família está ou não preparada para saber da tua sexualidade. Há famílias que têm posturas homofóbicas e heterocentristas devido, por exemplo, à sua cultura, religião ou educação. Neste caso, pode ser difícil assumires-te, especialmente se estás a viver em casa da tua família ou a ser ajudado financeiramente.
Deves decidir quem da tua família te apoiaria e reagiria melhor. Podes até precisar de alguém que saiba guardar segredo. Na maioria das vezes, as mães são a melhor escolha, porque apesar de se poderem sentir chocadas no princípio, muitas vezes elas até já sabiam. O tempo também ajuda e se quem escolheres reagir mal, pode ser que aceite melhor passado algum tempo.
Tens de ser paciente e deves evitar revelar a tua orientação sexual num momento de raiva ou descontrolo emocional. Podes procurar livros que ajudem a tua família a compreender quem és. Lembra-te que a maior parte das pessoas tem dificuldade em pensar ou falar dos seus próprios sentimentos e atracções sexuais. Talvez precisem de aprender com a tua experiência.
A maioria dos pais pensa que entende os seus filhos ou filhas desde o dia em que nasceram. Ao assumires-te podem sentir que te perderam ou que te transformaste numa pessoa diferente que não reconhecem. O mais provável é que este sentimento de perda seja temporário: pode demorar alguns meses, alguns anos, mas também pode nunca vir a desaparecer.

3. Escola
Se ainda estás a estudar, talvez saibas como as pessoas que te rodeiam pensam dos gays, lésbicas ou bissexuais, pelo que conversam entre si. Mais uma vez, só tu poderás saber até que ponto te sentes seguro em dizer aos outros. Poderá até haver um/a professor/a ou psicológ@ que te apoie e ajude. Podes sentir que a tua escola não tem um ambiente propício para te assumires e decidir que vais esperar até ires para uma universidade ou arranjares emprego. Isto não deve ser um problema. Deves manter-te física e psicologicamente são/sã.
Se te assumires na escola e tentarem fazer-te a vida num inferno ou te magoarem, fala imediatamente com um/a professor/a ou psicológ@. Tens o direito a uma educação sem assédio nem preconceitos e é dever da escola proteger-te e apoiar-te.
Assumir quem és vai requerer muita coragem, paciência e força de vontade da tua parte. Mas é muito mais fácil aproximares-te das pessoas de quem gostas e que gostam de ti quando sentes que não tens nada a esconder e quando te sentes bem contigo própri@.


Versão On-Line de el gê bê tê 2003 por PortugalGay.PT
http://portugalpride.org/elgebete/2003/txt03.asp